O TRIBUTO AO MAESTRO MOACIR SANTOS

Criador de uma linguagem musical única, que vai muito além do universo de seu instrumento, o contrabaixista Sizão Machado é reconhecido nacional e internacionalmente, por suas atuações ao lado de Chet Baker, Herbie Mann, Elis Regina, Jim Hall, Chico Buarque, Dori Caymmi, Djavan, Milton Nascimento, Dionne Warwick, Ivan Lins, Joyce, Flora Purim e Airto Moreira, Roberto Menescal, Noite Ilustrada, Jean & Paulo Garfunkel, Família Jobim, Paulo César Pinheiro, Paul Winter, Hendrick Merkins e muitos outros, imprimindo sempre a sua marca por onde toca.

A concepção, a rítmica, as harmonizações “violonísticas” transpostas para o contrabaixo, aliadas a um extremo bom gosto e sofisticação, fazem com que seu estilo inconfundível seja reconhecido em qualquer gênero musical. Isso é um privilégio de poucos e bons instrumentistas.

Em seu cd Quinto Elemento, lançado em 2001, Sizão Machado reuniu composições próprias e músicas escolhidas a dedo ao longo de sua eclética carreira. Foi nessa época que conheceu Stanats, um tema inédito do maestro Moacir Santos, que em 1990, em Los Angeles, mostrou ao então aluno e eterno admirador Sizão Machado a música recém-criada. Na época gravaram juntos uma fita-cassete trazida ao Brasil. A composição ganhou arranjo de Nailor Proveta e, posteriormente, de Sizão Machado e foi gravada pela primeira vez no cd do contrabaixista que ganhou apresentação do grande mestre.

Anos se passaram e vários foram os encontros entre os dois reforçando ainda mais a admiração e o respeito mútuos. Moacir Santos é até hoje nome obrigatório nos shows, concertos, nas execuções e nas salas de aula ministradas por Sizão Machado a alunos e professores do Brasil e do exterior.

moacir00moacir01
Capa do cd Quinto Elemento, de Sizão Machado e apresentação feita por Moacir Santos

MAESTRO MOACIR SANTOS

moacir02Coisas, Choros&Alegria e Ouro Negro: os três discos de Moacir Santos lançados no Brasil

Instrumentista, arranjador, compositor, maestro e professor, Moacir Santos é o retrato do nosso país. Nascido no sertão de Pernambuco, de família muito pobre, Moacir recordava-se, segundo a publicação Músicos do Brasil: uma enciclopédia instrumental que a música sempre esteve em sua vida. “Quando mamãe morreu, eu tinha uns 3 anos, mais ou menos. Lembro de estar no quintal da casa, batendo latas, imitando a banda da cidade. Porque eu tinha uma bandinha: uns cinco meninos, tudo nuzinho, porque lá é muito quente e porque a gente era pobre. [...] O meu instrumento era lata, eu ficava batendo lata de goiabada. Ta-ta-ta-ta, tocando. Eu tenho isso pra mim, que eu já nasci músico, nasci com a música. Eu era também diretorzinho dos meninos da banda, quando a gente era criança.”

Tocou em bandinhas, circos e vivia percorrendo sozinho as cidades do sertão de Pernambuco. Sua ânsia era tanta que chegou a estudar com cinco diferentes professores em uma mesma semana. Aos 23 anos era um músico respeitado. Tocava saxofone na big band do maestro Chiquinho, na Rádio Nacional no Rio de Janeiro. Na época tomou a decisão de se tornar um músico completo e começou a estudar harmonia, contraponto e composição com mestres como Paulo Silva, José Siqueira, Virginia Fiusa, Cláudio Santoro, João Batista Siqueira, Nilton Pádua, Guerra-Peixe e o maestro alemão Koellreutter.

Em 1967 mudou-se para Los Angeles na região de Pasadena, na Califórnia, onde viveu compondo trilhas para o cinema, ministrando aulas de música, composição e orquestração.

Grande parte de sua obra foi lançada apenas nos Estados Unidos. No Brasil, Moacir Santos lançou o disco Coisas, gravado em 1965 (remasterizado e relançado em 2005), Ouro Negro (2001) e Choros & alegria, de 2005, que traz uma compilação de composições do início da sua carreira, nunca antes gravadas.

Moacir Santos faleceu em 6 de agosto de 2006, logo depois de completar 80 anos, mas sua música está viva e deve ser lembrada sempre por sua beleza e virtuosismo.